Certa vez, num botequim, conversava com amigos sobre a peleja evolucionismo versus criacionismo. Um dos nossos, que cultivava a fama de politicamente incorreto, disse: "Se Deus criou o homem à sua imagem e semelhança, então Ele se chama Chico." Neste instante, aproximou-se um sujeito, musculoso como um gorila, branco como um chimpanzé pelado e, tal qual um orangotango, coberto por uma hirsuta pelagem ruiva. Após nos xingar de comunistas ateus, deu-nos uma banana - não a fruta, alimento dileto dos monos, mas o gesto que se faz com o antebraço: o famigerado "aqui, ó!".
A banana, o dedo em riste e o ato de segurar e balançar a genitália ante o desafeto, Freud classificou tais gestos de símbolos fálicos. Aventou, também, que essas gesticulações, ao mesmo tempo eróticas e agressivas, indicam uma relação entre sexo e poder. O pai da psicanálise, entretanto, não sabia que esse tipo de ofensa, longe de ser uma idiossincrasia humana, é prática corrente entre quase todos os primatas.
Com efeito, em muitas pesquisas de campo, primatologistas observaram forte semelhança entre os rituais de corte e os de luta dos macacos machos por fêmeas, território e status social. À guisa de exemplo, o macaco-de-cheiro, ao se desentender com um dos seus pares, aponta o seu pênis ereto para a cara do rival. Às vezes, no clímax da fúria, chega mesmo a ejacular. Ameaças fálicas similares também ocorrem entre babuínos, chimpanzés, bonobos, macacos japoneses e em muitas outras espécies do Velho e do Novo Mundo.
Nos bonobos, por haver codominância entre os sexos, há ocasiões em que uma fêmea de posição elevada agride um macho subalterno, domina-o e depois "o cobre" ritualisticamente, isto é, simula com o infeliz uma relação de coito em que ela figura como ativo, o macho. Desta forma ela o avisa: "Aqui sou eu quem manda!". Acham isso bizarro? Ora, qual machão jamais recebeu "bananas" de uma dama? E quantas mulheres valentes ameaçam homens com um "vou te f.!"? - O fálus, mais que o órgão sexual masculino, é um símbolo de dominação (ou melhor, um paleossímbolo, visto que inato, transmitido geneticamente, como descobriu D. Ploog et al); e, nesta condição, muitas mulheres o têm e alguns homens, não.
Como o espaço que disponho é pouco, não comentarei o fato de que o agressor estava encharcado de garapa fermentada, o que me lembrou outro fato: muitos macacos frutívoros preferem os frutos podres do chão, fermentados e com teor alcoólico, do que os frescos da copa.
De uma coisa, porém, o religioso me convenceu: os homens não evoluíram do macaco, nem de um ancestral comum. Na verdade, os homens somos macacos - e muitos de nós, macacos metidos a besta.
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