terça-feira, junho 29, 2010

Os vícios por gordura e cocaína atuam de forma semelhante no organismo




O mecanismo molecular responsável pelo vício em drogas pesadas - como cocaína e heroína, por exemplo - é semelhante ao que leva à compulsão por comidas gordurosas e calóricas. O estudo realizado em camundongos mostra que a compulsão por esse tipo de alimento coincide com a deterioração progressiva do equilíbrio químico em circuitos de recompensa do cérebro e comprova que a ingestão contínua de alimentos gordurosos causa mudanças neuroquímicas semelhantes às encontradas em dependentes químicos, sendo muito difícil de ser combatida. Os resultados são do artigo publicado recentemente na Nature Neuroscience coordenado por Paul Kenny do Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida (Estados Unidos).



Embora realizado em modelos animais, o estudo fornece uma explicação científica para algo que é verificado na prática por pacientes obesos há muito tempo: assim como ocorre com a dependência em outras substâncias, controlar o vício por comida não saudável é algo extremamente difícil. Os resultados mostraram que as partes do cérebro que lidam com o prazer, além de superestimuladas, deterioraram-se gradualmente à medida que o consumo dos alimentos gordurosos aumentaram. Essas regiões passaram a responder cada vez menos aos estímulos, o que fez com que os camundongos comessem cada vez mais, perdendo o controle da fome.



Os animais foram submetidos a uma dieta modelada a partir do típico cardápio que contribui para a obesidade humana – com calorias de fácil obtenção e alta gordura – como crostas de açúcar, salsichas, bacon e cheese-cakes. Logo após o início dos experimentos, os animais começaram a comer em grande quantidade e ingeriram o dobro das calorias dos ratos do grupo de controle. Quando a dieta foi substituída por outra, mais balanceada, eles simplesmente se recusaram a comer. Os animais que apresentaram um colapso nos circuitos cerebrais de recompensa foram justamente aqueles que mudaram a dieta mais profundamente, buscando a comida mais saborosa e menos saudável. Esses mesmos animais também foram os que se mantiveram comendo, mesmo quando levavam choques elétricos.



Depois de mostrar que os ratos obesos tinham em relação à comida um comportamento semelhante ao do vício em drogas, Kenny e sua equipe investigaram o mecanismo molecular subjacente que explica a modificação. Eles se concentraram em um receptor específico no cérebro, conhecido por ter um importante papel na vulnerabilidade à dependência química e à obesidade – o receptor de dopamina D2. O estudo mostra que os ratos com comportamento compulsivo tinham menos receptores de dopamina D2 no cérebro. Uma quantidade baixa desses receptores, nos humanos, está associada a uma propensão maior ao vício e à obesidade.



O receptor D2 responde à dopamina, um neurotransmissor que está relacionado à percepção de prazer - como o provocado por comida, sexo ou drogas. Quando há excesso no consumo de drogas como cocaína, por exemplo, o cérebro é "inundado" com dopamina, aumentando a sensação de prazer. Isso leva eventualmente a mudanças físicas na maneira como o cérebro responde à droga. O estudo verificou que um processo semelhante também acontece com dietas gordurosas.



Esses resultados comprovam o que os especialistas desconfiavam há muito tempo. Ingerir dietas hipercalóricas em grandes quantidades modifica o sistema de recompensas do cérebro e estimula a compulsão. O consumo exagerado deste tipo de comida é um gatilho para uma resposta neuroadaptativa, semelhante ao vício, nos circuitos de recompensa do cérebro, o que leva ao desenvolvimento da obesidade e à dependência de drogas, e pode levar a um quadro irreversível.


(Repassado por Manuel Loncan)

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